O original foi escrito em ingles no dia 5 de Maio 2016 by Helen Titchen Beeth.
O primeiro original deste artigo foi publicado no Kosmos Journal edição primavera-verão 2016.
A qualidade das nossas conversas faz do mundo aquilo que ele é. Como falamos uns com os outros determina se nos afastamos e preparamo-nos para batalhar pelos nossos diferentes interesses, ou então sustemos o fogo e permanecemos unidos e abertos a um futuro de entendimento mútuo e possibilidades inspiradoras. Conversar é um arte que pode ser praticada, a qualquer escala, com uns poucos ou com uns milhares, e num período de tempo que pode ir de alguns minutos, vários dias ou em contínuo e de modo permanente.
Este artigo é uma introdução a uma estrutura prática e a uma rede global auto-organizada que detém uma peça crucial no puzzle ‘como podemos tornar real uma nova história civilizacional que sentimos, de modo profundo e intuitivo, ser possível, e pela qual o coração humano tanto anseia .
A ‘Art of Hosting Conversations that Matter’ é uma abordagem participativa à vida, na qual a prática pessoal, o diálogo, o acolhimento de inquérito colectivo e inovação co-criativa suportam o desenvolvimento saudável da vida humana na terra, e face às condições complexas do mundo de hoje.
É particularmente eficaz naquelas situações e contextos onde a complexidade é de tal ordem que o nosso habitual recurso de ‘previsão e controlo’ somente torna as coisas piores, e timidamente nos atrevemos a admitir que não sabemos o que fazer. O padrão desta prática abrange o pessoal e o colectivo, o local e o global, o interior e o exterior, o visível e o invisível. O seu território – o local onde prospera – é a realidade complexa dos sistemas vivo, o ponto ideal entre caos e ordem, onde reside a co-criação do que é verdadeiramente novo. O seu etos é um amor à totalidade, o deleite face à diversidade da vida, uma inclusão radical e destemida de tudo o que se revela no mundo.
Um exemplo de co-criação em acção
O primeiro original deste artigo foi publicado no Kosmos Journal edição primavera-verão 2016.
A qualidade das nossas conversas faz do mundo aquilo que ele é. Como falamos uns com os outros determina se nos afastamos e preparamo-nos para batalhar pelos nossos diferentes interesses, ou então sustemos o fogo e permanecemos unidos e abertos a um futuro de entendimento mútuo e possibilidades inspiradoras. Conversar é um arte que pode ser praticada, a qualquer escala, com uns poucos ou com uns milhares, e num período de tempo que pode ir de alguns minutos, vários dias ou em contínuo e de modo permanente.
Este artigo é uma introdução a uma estrutura prática e a uma rede global auto-organizada que detém uma peça crucial no puzzle ‘como podemos tornar real uma nova história civilizacional que sentimos, de modo profundo e intuitivo, ser possível, e pela qual o coração humano tanto anseia .
A ‘Art of Hosting Conversations that Matter’ é uma abordagem participativa à vida, na qual a prática pessoal, o diálogo, o acolhimento de inquérito colectivo e inovação co-criativa suportam o desenvolvimento saudável da vida humana na terra, e face às condições complexas do mundo de hoje.
É particularmente eficaz naquelas situações e contextos onde a complexidade é de tal ordem que o nosso habitual recurso de ‘previsão e controlo’ somente torna as coisas piores, e timidamente nos atrevemos a admitir que não sabemos o que fazer. O padrão desta prática abrange o pessoal e o colectivo, o local e o global, o interior e o exterior, o visível e o invisível. O seu território – o local onde prospera – é a realidade complexa dos sistemas vivo, o ponto ideal entre caos e ordem, onde reside a co-criação do que é verdadeiramente novo. O seu etos é um amor à totalidade, o deleite face à diversidade da vida, uma inclusão radical e destemida de tudo o que se revela no mundo.
Um exemplo de co-criação em acção
“Imagina que tens tudo pronto para os próximos 5 anos, e de repente tudo corre mal. Acabas por perder tudo.
Um dia perdes o teu dinheiro, noutros dias perdes os teus amigos. E finalmente, perdes a segurança da tua casa. Perdeste tudo porque a sociedade a que pertences correu mal.
E assim nada existe mais para além da decisão de partir, partir para algum outro lugar. É aqui que descobres que para qualquer sitio que vás, as pessoas tem medo de ti.
Após uma longa e difícil jornada eu cheguei a este pais. Nos 4 meses que cá estou este é o primeiro local que encontro onde as pessoas tem a coragem de conhecer estrangeiros sem medo. Obrigado”
Quem fala estas palavras é um jovem Sírio de nome Mike. Ele fala num grande e diverso circulo de pessoas numa histórica mansão localizada num meio rural na Flandres, na região da Bélgica cuja a língua é o Holandês. Ele foi conduzido a este local por um conjunto de sincronismos, em resposta à sua própria súplica de coração – e isto é uma outra estória.
E então o que é um circulo de pessoas faz neste local?[…]
Somos mais de 70 pessoas, provenientes de três continentes e 14 países. As nossas idades vão dos 14 aos 70. Vimos de contextos culturais e históricos, e circunstâncias sociais e económicas diferentes. A maior parte de nós não conhecia ninguém quando chegou. Estamos juntos neste local faz dois dias e esta é a manhã do terceiro e ultimo dia deste encontro. Cada um de nós escolheu estar aqui em resposta à chamada a uma pergunta que é importante para nós: “E se coubesse a cada um de nós representar uma sociedade onde tudo e todos possam prosperar? Onde eu possa aceitar e celebrar a cultura e valores de outros sem ter de desvalorizar ou sacrificar a minha?”
Esta questão surgiu de um inquérito colectivo realizando junto de um punhado de pessoas a viver na Bélgica e na busca de formas mais satisfatórias de relacionamento com a diversidade, um factor inescapável da vida na sociedade actual. Na língua, cultura, política, etnicidade, crença, idade, profissão, função, história pessoal – os modos pelos quais somos diferentes são infinitos. Para qualquer lado que olhemos vemos abismos para serem atravessados, pontes a construir: como podem abordagens do topo para a base confluir com abordagens a partir da base para o topo? Como podemos empenhar-nos com todas as partes interessadas? Integrar vagas sucessivas de refugiados? Abranger todos os fossos entre gerações, crenças, línguas, visões do mundo e culturas? Como podemos convidar todas estas diferenças em apreciação da nossa abundancia e não como algo a temer?
E qual é o interesse em reunir e inquirir em volta de uma questão tão vasta, quando somos, em termos relativos, tão poucos? Qual a diferença que poderá eventualmente fazer face à forte agitação que se abate sobre as fronteiras europeias, espalhando-se rumo ao seu coração, perturbando as nossa sossegadas vidas?
O tema é: aprender em conjunto.
Estamos aqui juntos por um período de três dias para aprender e praticas a Arte de Acolher Conversas com Significado
(também chamada a Arte da Liderança Participativa): uma estrutura de métodos e praticas para nos ajudar a estar presentes com estas questões no nosso dia-a-dia, de um modo que possa transformar a nossa experiência, individual e colectiva. Trata-se de uma abordagem prática para construir capacidade para um modo diferente de estar em conjunto, que é essencialmente participativo e que co-cria inteligência colectiva, onde falamos uns com os outros e não sobre os outros. Estas práticas auxiliam-nos a gerar acção (e não-acção) baseados no que de melhor existe na sabedoria colectiva, presente em qualquer sistema humano.
Encontros de aprendizagem como este aqui descrito tem sido realizados por todo o mundo, em todos os continentes ( excepto Antártica), há quase 20 anos. Ninguém contabilizou quantos já se realizaram. Cada um é único. Cada um encontrando um novo modo de inovar, sempre prosseguindo e retornando à prática partilhada e modelos do Art of Hosting, que na essência é uma padrão de co-criação.
[…]
Um dia perdes o teu dinheiro, noutros dias perdes os teus amigos. E finalmente, perdes a segurança da tua casa. Perdeste tudo porque a sociedade a que pertences correu mal.
E assim nada existe mais para além da decisão de partir, partir para algum outro lugar. É aqui que descobres que para qualquer sitio que vás, as pessoas tem medo de ti.
Após uma longa e difícil jornada eu cheguei a este pais. Nos 4 meses que cá estou este é o primeiro local que encontro onde as pessoas tem a coragem de conhecer estrangeiros sem medo. Obrigado”
Quem fala estas palavras é um jovem Sírio de nome Mike. Ele fala num grande e diverso circulo de pessoas numa histórica mansão localizada num meio rural na Flandres, na região da Bélgica cuja a língua é o Holandês. Ele foi conduzido a este local por um conjunto de sincronismos, em resposta à sua própria súplica de coração – e isto é uma outra estória.
E então o que é um circulo de pessoas faz neste local?[…]
Somos mais de 70 pessoas, provenientes de três continentes e 14 países. As nossas idades vão dos 14 aos 70. Vimos de contextos culturais e históricos, e circunstâncias sociais e económicas diferentes. A maior parte de nós não conhecia ninguém quando chegou. Estamos juntos neste local faz dois dias e esta é a manhã do terceiro e ultimo dia deste encontro. Cada um de nós escolheu estar aqui em resposta à chamada a uma pergunta que é importante para nós: “E se coubesse a cada um de nós representar uma sociedade onde tudo e todos possam prosperar? Onde eu possa aceitar e celebrar a cultura e valores de outros sem ter de desvalorizar ou sacrificar a minha?”
Esta questão surgiu de um inquérito colectivo realizando junto de um punhado de pessoas a viver na Bélgica e na busca de formas mais satisfatórias de relacionamento com a diversidade, um factor inescapável da vida na sociedade actual. Na língua, cultura, política, etnicidade, crença, idade, profissão, função, história pessoal – os modos pelos quais somos diferentes são infinitos. Para qualquer lado que olhemos vemos abismos para serem atravessados, pontes a construir: como podem abordagens do topo para a base confluir com abordagens a partir da base para o topo? Como podemos empenhar-nos com todas as partes interessadas? Integrar vagas sucessivas de refugiados? Abranger todos os fossos entre gerações, crenças, línguas, visões do mundo e culturas? Como podemos convidar todas estas diferenças em apreciação da nossa abundancia e não como algo a temer?
E qual é o interesse em reunir e inquirir em volta de uma questão tão vasta, quando somos, em termos relativos, tão poucos? Qual a diferença que poderá eventualmente fazer face à forte agitação que se abate sobre as fronteiras europeias, espalhando-se rumo ao seu coração, perturbando as nossa sossegadas vidas?
O tema é: aprender em conjunto.
Estamos aqui juntos por um período de três dias para aprender e praticas a Arte de Acolher Conversas com Significado
(também chamada a Arte da Liderança Participativa): uma estrutura de métodos e praticas para nos ajudar a estar presentes com estas questões no nosso dia-a-dia, de um modo que possa transformar a nossa experiência, individual e colectiva. Trata-se de uma abordagem prática para construir capacidade para um modo diferente de estar em conjunto, que é essencialmente participativo e que co-cria inteligência colectiva, onde falamos uns com os outros e não sobre os outros. Estas práticas auxiliam-nos a gerar acção (e não-acção) baseados no que de melhor existe na sabedoria colectiva, presente em qualquer sistema humano.
Encontros de aprendizagem como este aqui descrito tem sido realizados por todo o mundo, em todos os continentes ( excepto Antártica), há quase 20 anos. Ninguém contabilizou quantos já se realizaram. Cada um é único. Cada um encontrando um novo modo de inovar, sempre prosseguindo e retornando à prática partilhada e modelos do Art of Hosting, que na essência é uma padrão de co-criação.
[…]
Então o que é a Arte de Acolher Conversas Importantes?
A Art of Hosting tem sido descrita de diferentes maneiras. E isto faz todo o sentido, dado que se trata de um conjunto de práticas, modelos e perspectivas multifacetados e em continua evolução. Um modo de entender a AoH é tomando como um processo continuo de inquérito ao modo como criamos inteligência colectiva e sabedoria de grupo, e ao que é que acontece quando estes fenómenos emergem – quando conversas profundas e entrecruzadas trazem novos insights e novo entendimento comum.
Uma outra forma de descrever a Art of Hosting é olhando como se de um iceberg se trata-se. Aquilo que é visível ao primeiro olhar é uma diversidade de metodologias e abordagens conversacionais, muitas das quais (Circulo, Open Space Technology, World Café, Inquérito Apreciativo) foram ‘inventadas’ algures e são maravilhosamente aplicadas nas suas comunidades de prática. Algo que estas metodologias tem em comum é que enquanto procuram replicar conversas naturais e espontâneas, para o conseguirem fazer de modo eficaz , tem de as convidar, desenhar e acolher habilmente A arte reside em saber quando usar cada uma das metodologias, ao serviço de um propósito com valor. A Art of Hosting adopta a arquitectura básica, os princípios e os processos destes métodos e mistura-os, encaixa-os e adapta-os para irem ao encontro das necessidades de qualquer contexto. Esta mistura e combinação é a nossa forma de arte.
Por baixo destas metodologias que aparecem na ponta do iceberg encontramos, uma estrutura invisível de atitudes e práticas que permitem que tudo flua. Por baixo de tudo estão as assumpções básicas que perfazem a totalidade da visão do mundo da Art of Hosting. Na frente deste elementos estruturantes temos a consciência e reconhecimento das organizações humanas enquanto sistemas vivos complexos: tal como qualquer sistema vivo que existe por aí, na natureza (colónias formadas por bactérias, formigas que criam formigueiros, ecossistemas complexos que se adaptam a diferentes climas, , etc.) também as pessoas e organizações são sistemas vivos complexos. Por outras palavras, são inteligentes, criativos, adaptativos, auto-organizados e em busca de sentido.
Este é o motivo por que as praticas participativas são tão vitais nos dias de hoje: porque permitem a todos participarem e serem empoderados. A inovação que a humanidade necessita para nos tirar do meio dos problemas com que nos deparamos surge da dança entre caos e ordem, do cruzamento e ligação de ideias, experiências e insights. As conversas contam de facto, porque a acção com sabedoria (e não acção) emergem do entendimento partilhado que criamos em conjunto. (ver artigo Evolutionary Entrepreneurship, engaging the collective will.)
O poder da prática
Desta visão do mundo enquanto sistema vivo nasce uma atitude perante a vida não tanto de busca de conhecimento e compreensão, mas mais de prática de participação – uma busca sagrada por questões incómodas que nos abrem a experimentar mais a vida, a mais profundidade dentro de nós, ao mistério do outro e à magia sobre o que poderemos criar em conjunto, ao serviço da Vida. No coração do Art of Hosting reside aquilo que os praticantes chamam o ‘four-fold practice’. A palavra ‘prática’ é primordial aqui: estamos a aprender em conjunto, uma conversa de cada vez, para identificar e fortalecer o nosso músculo de consciência que nos permitirá desenvolver a mestria numa forma de arte social chave para o futuro. (A Art of Hosting providencia o portal perfeito para as práticas de Presença Colectiva - Collective Presencing).
Uma ajuda para um bom diálogo: passar a peça falante
Um padrão emergente do Novo Paradigma: comunidades virais
Num período de mais de uma década a Comunidade Art of Hosting cresceu de um ‘punhado’ de amigos a experimentar e a partilhar ideias em conjunto, para uma rede global auto-organizada de muitos milhares, com novos membros a aderirem a todo o momento. Para a maioria das pessoas a entrada nesta comunidade é realizada através de uma formação de 3 dias, como aquela que descrevi a cima. Para muitos é uma transformação de vida. Não existe uma instituição central a realizar continuamente a mesma acção de formação. Facto é que não existe licença, direitos ou marcas registadas ( para além dos direitos ‘creative commons’ em relação a um guia co-criado num modelo open-source), nada de estruturas organizacionais, pessoal ou sede, nada de expectativas ou acordos financeiros. Cada encontro de aprendizagem é único, convocado por uma necessidade num contexto local e tornado real através do esforço de alguns praticantes locais. E usualmente apoiados por um ou mais ‘stewards’ experientes no padrão Art of Hosting, que podem vir de outras partes do mundo, e que salvaguardam a qualidade e protegem a integridade do DNA da prática.
As pessoas que comparecem estas formações locais proveem de todos os caminhos da sociedade – governos locais, ONG’s, escolas, empresas, trabalhadores sociais, diferentes activistas locais, e simplesmente pessoas que se preocupam em criar um mundo melhor e estão sedentas por conexões humanas mais profundas. Tipicamente, em obediência à injunção de nunca anfitriar sozinho, novos praticantes chamam os seus pares locais para os apoiar a aplicar as praticas Art of Hosting nos seus próprios contextos, onde começam a espalhar essas práticas, deixando-as transformar o que tocam. É assim que comunidades locais auto-organizadas apareceram em inúmeros locais à volta do globo, permitindo aos praticantes apoiar e aprofundar a sua prática em conjunto, e à medida que crescem com as novas almas tocadas pela prática, os próprios que convocam as formações podem também imergirem-se nestes padrões.
E depois segue-se a aplicação: a prática em prática! Muitas vezes um evento, especialmente desenhado para uma campo especifico, é convocado para permitir o envolvimento com uma variedade de stakeholders reais – exemplos incluem acolher Alimentação e Finanças no Reino Unido, educação na Lituania, saúde em Columbus, Ohio (USA), jovens na Nova Escócia, negócios em qualquer parte. Em outros casos as práticas da Art of Hosting ganharam raizes em comunidades e organizações e começaram ao longo do tempo a transforma-los por dentro, costurando em conjunto o ecossistema dinâmico e saudável que existe potencialmente em qualquer espaço de esforço humano, apesar das fronteiras que tendem a fragmentarem-nos. Exemplos disto são Kufunda Village no Zimbabwe, a cidade de Columbus (Ohio) e a Comissão Europeia (agora a espalhar-se para outras instituições europeias) em Bruxelas. Estórias como estas e outros contextos podem ser encontradas em www.artofhosting.org.
Todos estes espaços locais estão conectados através de uma rede global auto-organizada que oferece suporte à aprendizagem colectiva através de mailing lists, forums online, uma crescente biblioteca online e websites informativos.
Em conclusão, o que emerge
Ao longo dos anos a prática da Art of Hosting tem-se desenvolvida e espalhada, e certos padrões aparecem consistentemente em diferentes niveis de escala:
A Art of Hosting tem sido descrita de diferentes maneiras. E isto faz todo o sentido, dado que se trata de um conjunto de práticas, modelos e perspectivas multifacetados e em continua evolução. Um modo de entender a AoH é tomando como um processo continuo de inquérito ao modo como criamos inteligência colectiva e sabedoria de grupo, e ao que é que acontece quando estes fenómenos emergem – quando conversas profundas e entrecruzadas trazem novos insights e novo entendimento comum.
Uma outra forma de descrever a Art of Hosting é olhando como se de um iceberg se trata-se. Aquilo que é visível ao primeiro olhar é uma diversidade de metodologias e abordagens conversacionais, muitas das quais (Circulo, Open Space Technology, World Café, Inquérito Apreciativo) foram ‘inventadas’ algures e são maravilhosamente aplicadas nas suas comunidades de prática. Algo que estas metodologias tem em comum é que enquanto procuram replicar conversas naturais e espontâneas, para o conseguirem fazer de modo eficaz , tem de as convidar, desenhar e acolher habilmente A arte reside em saber quando usar cada uma das metodologias, ao serviço de um propósito com valor. A Art of Hosting adopta a arquitectura básica, os princípios e os processos destes métodos e mistura-os, encaixa-os e adapta-os para irem ao encontro das necessidades de qualquer contexto. Esta mistura e combinação é a nossa forma de arte.
Por baixo destas metodologias que aparecem na ponta do iceberg encontramos, uma estrutura invisível de atitudes e práticas que permitem que tudo flua. Por baixo de tudo estão as assumpções básicas que perfazem a totalidade da visão do mundo da Art of Hosting. Na frente deste elementos estruturantes temos a consciência e reconhecimento das organizações humanas enquanto sistemas vivos complexos: tal como qualquer sistema vivo que existe por aí, na natureza (colónias formadas por bactérias, formigas que criam formigueiros, ecossistemas complexos que se adaptam a diferentes climas, , etc.) também as pessoas e organizações são sistemas vivos complexos. Por outras palavras, são inteligentes, criativos, adaptativos, auto-organizados e em busca de sentido.
Este é o motivo por que as praticas participativas são tão vitais nos dias de hoje: porque permitem a todos participarem e serem empoderados. A inovação que a humanidade necessita para nos tirar do meio dos problemas com que nos deparamos surge da dança entre caos e ordem, do cruzamento e ligação de ideias, experiências e insights. As conversas contam de facto, porque a acção com sabedoria (e não acção) emergem do entendimento partilhado que criamos em conjunto. (ver artigo Evolutionary Entrepreneurship, engaging the collective will.)
O poder da prática
Desta visão do mundo enquanto sistema vivo nasce uma atitude perante a vida não tanto de busca de conhecimento e compreensão, mas mais de prática de participação – uma busca sagrada por questões incómodas que nos abrem a experimentar mais a vida, a mais profundidade dentro de nós, ao mistério do outro e à magia sobre o que poderemos criar em conjunto, ao serviço da Vida. No coração do Art of Hosting reside aquilo que os praticantes chamam o ‘four-fold practice’. A palavra ‘prática’ é primordial aqui: estamos a aprender em conjunto, uma conversa de cada vez, para identificar e fortalecer o nosso músculo de consciência que nos permitirá desenvolver a mestria numa forma de arte social chave para o futuro. (A Art of Hosting providencia o portal perfeito para as práticas de Presença Colectiva - Collective Presencing).
- A primeira dimensão desta prática concerne ao desenvolvimento da prática de presença pessoal, como um instrumento básico de participação. Presença diz respeito à qualidade de autenticidade, vulnerabilidade, confiança e coragem que nos permite permanecer no meio de emoção intensa, tolerar não-saber, sem pressa para concertar o quer que seja, estar confortável com o silêncio, trabalhar ao serviço de um propósito maior que o nosso ego. As práticas que podem suportar a emergência desta presença são muitas e variadas de modo a acomodar todos os gostos: yoga, dança, artes marciais, meditação, oração, psicoterapia, tempo na natureza, tantrismo, arte, música – a questão é o compromisso com a prática regular e a aplicação no aqui e agora!
Uma ajuda para um bom diálogo: passar a peça falante
- A segunda dimensão da prática é a participação. A um determinado nível isto significa praticar o envolvimento em boas conversas, num diálogo com escuta profunda. A um nível mais profundo, encontramos em cada momento desperto um convite para participar com toda a vida. As práticas neste domínio incluem a escuta activa, diálogo, colocar questões ponderosas, ter propriedade nas próprias projecções, expectativas e assumpções, clarificar intenções, cultivar a curiosidade e abrirmo-nos à natureza.
- A terceira dimensão da prática é anfitriar conversas. Este é o domínio das metodologias que constituem a marca mais visível da Art of Hosting. Por baixo da superfície, aprendemos arte de criar e suster um contentor onde as pessoas podem realizar conversas com significados profundos—mesmo se numa conferencia de 2 dias com 800 participantes. Aprendemos a estabelecer as condições que permitirão um grupo permanecer em presença colectiva, e suster esse espaço no meio da confusão que se gera ao abandonar territórios familiares, para que uma nova ordem, claridade e relacionamentos mais profundos possam emergir. Tais conversas são mais prováveis de ocorrer na presença de intenções claras, uma pergunta-ardente ponderosa, um convite apelativo, bom desenho, um enquadramento hábil, e a presença para suster espaço para a emergência. Um dos princípios centrais ao Art of Hosting é “nunca anfitriar sozinho”. Este não é um trabalho para o herói solitário – “é necessário um campo para acolher um campo”. São necessários vários anos para adquirir a mestria com estas artes subtis de interacção colectiva, e esta é uma outra razão pela qual lhe chamamos uma ‘prática’!
- A quarta dimensão da prática é a comunidade. Uma coisa é ir a uma formação e aprender o básico sobre a arte de anfitriar. Se vamos sustentar a nossa aprendizagem e manter viva a prática, desenvolvendo-a para transformarmos a nós e ou nosso meio envolvente, precisamos de permanecer ligados a outros praticantes: necessitamos de uma comunidade de prática. O modo tradicional de “controlo de qualidade” consiste em criar a organização ou associação que estabelece os princípios-padrão. Mas para dar uma oportunidade ao que pode emergir, partilhamos o nosso conhecimento através de colaboração e de conversas, sem qualquer hierarquia formal. De um certo modo esta prática de comunidade – esta comunidade de prática- é a culminação da dedicação de muitas pessoas à prática das outras três dimensões.
Um padrão emergente do Novo Paradigma: comunidades virais
Num período de mais de uma década a Comunidade Art of Hosting cresceu de um ‘punhado’ de amigos a experimentar e a partilhar ideias em conjunto, para uma rede global auto-organizada de muitos milhares, com novos membros a aderirem a todo o momento. Para a maioria das pessoas a entrada nesta comunidade é realizada através de uma formação de 3 dias, como aquela que descrevi a cima. Para muitos é uma transformação de vida. Não existe uma instituição central a realizar continuamente a mesma acção de formação. Facto é que não existe licença, direitos ou marcas registadas ( para além dos direitos ‘creative commons’ em relação a um guia co-criado num modelo open-source), nada de estruturas organizacionais, pessoal ou sede, nada de expectativas ou acordos financeiros. Cada encontro de aprendizagem é único, convocado por uma necessidade num contexto local e tornado real através do esforço de alguns praticantes locais. E usualmente apoiados por um ou mais ‘stewards’ experientes no padrão Art of Hosting, que podem vir de outras partes do mundo, e que salvaguardam a qualidade e protegem a integridade do DNA da prática.
As pessoas que comparecem estas formações locais proveem de todos os caminhos da sociedade – governos locais, ONG’s, escolas, empresas, trabalhadores sociais, diferentes activistas locais, e simplesmente pessoas que se preocupam em criar um mundo melhor e estão sedentas por conexões humanas mais profundas. Tipicamente, em obediência à injunção de nunca anfitriar sozinho, novos praticantes chamam os seus pares locais para os apoiar a aplicar as praticas Art of Hosting nos seus próprios contextos, onde começam a espalhar essas práticas, deixando-as transformar o que tocam. É assim que comunidades locais auto-organizadas apareceram em inúmeros locais à volta do globo, permitindo aos praticantes apoiar e aprofundar a sua prática em conjunto, e à medida que crescem com as novas almas tocadas pela prática, os próprios que convocam as formações podem também imergirem-se nestes padrões.
E depois segue-se a aplicação: a prática em prática! Muitas vezes um evento, especialmente desenhado para uma campo especifico, é convocado para permitir o envolvimento com uma variedade de stakeholders reais – exemplos incluem acolher Alimentação e Finanças no Reino Unido, educação na Lituania, saúde em Columbus, Ohio (USA), jovens na Nova Escócia, negócios em qualquer parte. Em outros casos as práticas da Art of Hosting ganharam raizes em comunidades e organizações e começaram ao longo do tempo a transforma-los por dentro, costurando em conjunto o ecossistema dinâmico e saudável que existe potencialmente em qualquer espaço de esforço humano, apesar das fronteiras que tendem a fragmentarem-nos. Exemplos disto são Kufunda Village no Zimbabwe, a cidade de Columbus (Ohio) e a Comissão Europeia (agora a espalhar-se para outras instituições europeias) em Bruxelas. Estórias como estas e outros contextos podem ser encontradas em www.artofhosting.org.
Todos estes espaços locais estão conectados através de uma rede global auto-organizada que oferece suporte à aprendizagem colectiva através de mailing lists, forums online, uma crescente biblioteca online e websites informativos.
Em conclusão, o que emerge
Ao longo dos anos a prática da Art of Hosting tem-se desenvolvida e espalhada, e certos padrões aparecem consistentemente em diferentes niveis de escala:
- Indivíduos imiscuem-se na sua liderança pessoal para defenderem aquilo pelo qual se preocupam.
- Equipas aumentam a sua capacidade para realizar acção sábia face a situações complexas.
- Comunidades e organizações abraçam mais diversidade, reconectam-se com o seu propósito e manifestam mais do seu potencial.
- Globalmente, emergem ecossistemas colaborativos saudáveis, compostos por diversas comunidades e organizações, na busca de caminhos futuros que beneficiem o todo.